terça-feira, 9 de agosto de 2016

O Amor - Desejo e Amizade



Trataremos aqui de amor, ou melhor, do amor. Um sentimento tão complexo de explicar, e ao mesmo tempo tão simples de sentir, um afeto que não sentimos por todos, mas que todos sentem. O amor se faz presente em diversos momentos de nossa vida, não é muito difícil ter lembranças de situações em que desejamos a presença de alguém que amamos, ou o quanto nos sentimos alegres pelo encontro da pessoa amada. Há quem diga, por exemplo, que o amor não importa, e que realmente o que interessa é o dinheiro ou a carreira, sem notar que, se o que lhe interessa é mesmo o dinheiro ou a carreira, ou até mesmo outras coisas, é por que possui amor por essas coisas. Sendo assim, o interesse pelo amor aumenta na medida em que sentimos. 

Vamos entender um pouco sobre dois fundamentais componentes do amor segundo o pensamento de Sponville . O primeiro é de Platão com sua ideia de Eros, ou o “amor-paixão”. O segundo vem de Aristóteles, com a “alegria de amar” ou também a Philía. Ambos os conceitos diferem na forma de amar, entretanto, se completam em sua magnitude, podendo dizer que um completa o outro de certa forma, como veremos a seguir. 

Começaremos pela noção de Eros, de acordo com Sponville, para Platão, amar é desejar, ou seja, você ama aquilo que deseja, ama aquele que deseja, ama enquanto e na intensidade em que deseja, e desejo nesse caso é simplesmente a falta, falta por aquilo que não tem, falta daquele que não tem. Assim sendo, nos leva a uma definição simples: você ama aquilo que deseja, e deseja aquilo que não tem. Todavia surge a pergunta: e quando passamos a ter? Nesse caso já não desejamos mais, pois desejo é pelo que não temos, e como amor é desejo, também já não amamos mais, isto é, ou você ama e deseja aquilo que não tem, ou tem, e aí nesse caso já não ama mais.

O amor é a falta, portanto, jamais amaremos o que é presença, por exemplo, o amor pela universidade só existe quando está no ensino médio, pois desejamos ser universitários, e quando conseguimos o sonhado ingresso para universidade, o amor por ela se esvai, passamos então a amar os finais de semana, as férias, e até mesmo o ensino médio. As metas podem ser outro exemplo, pois dentro da carreira profissional e até mesmo escolar estamos sempre buscando uma meta, e a meta nada mais é do que alcançar o que não se tem, e aquilo se torna um desejo, portanto, estamos sempre amando as metas, e quando alcançamos, traçamos novas metas e assim por diante. Um terceiro exemplo cabe aqui, que é o exemplo do casal, passamos a desejar alguém, traçamos um ideal desse alguém, e então, um belo dia conseguimos conquistar a companhia da pessoa amada, e aí surge o surpreendente, o desejo acaba, e com isso o amor também acaba. O fato aqui não quer dizer que a pessoa deixou de amar de realmente, mas sim deixou de desejar, ou seja, deixou de ter Eros pela universidade, pela meta, ou pela pessoa que desejava, porém, sabemos que não é tão simples assim e que fundo que o amor não simplesmente acaba, por isso mesmo Sponville, menciona a noção de amor a partir de Aristóteles, que explica o vazio que o Eros deixa que não compreendemos, esse componente do amor pode ser entendido como alegria de amar, ou também como Philía que pode ser também compreendido por alegria. 

Esse componente do amor entendido como Philía, segundo Sponville é o amor amizade, é o amor pelo mundo presente e por aquilo que se tem, ou seja, pela presença que alegra. É o amor pela universidade que traz alegria, pela pessoa que ali está e por aquilo que te alegra no momento que se faz presente. Por exemplo, é amar a universidade quando cursar a universidade, amar a pessoa amada na sua companhia e assim por diante. E como sei quando estou com alegria? Note que há momentos em que nos encontramos dispostos, com o máximo de energia possível, e em outros momentos estamos para baixo indispostos, isso significa que estamos menos potentes, ou seja, quanto mais potentes mais alegres estamos, quanto mais os encontros nos proporcionam a elevação de nossa potencia, mais alegres ficamos e assim também o contrário, quanto menos alegres ficamos, mais nossa potencia diminui e ficamos tristes. 

Portanto é possível concluir que o amor não é apenas Eros, em que o amor é desejo, e desejo é aquilo que falta, mas também pode ter como característica a Philía, pois nada nos impede de amar na falta, mas também continuar amando quando temos e nos alegra, nada nos impede de desejar a universidade e quando passar no vestibular amá-la, de desejar uma pessoa e quando conseguirmos que sua falta se torne presença continuar a amando. O amor, muito mais do que duas definições, muito mais do que duas explicações, é um sentimento complexo que não se deixará jamais traduzir por duas ou mais leituras, vários autores tentaram e tentam explica-lo, mas somente quando sentimos é que saberemos como de fato é amar.





Referências 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Brasília: Ed. UNB, 2001. 
PLATÃO. Diálogos: O Banquete. São Paulo. Editora Abril, 1972 (“Os Pensadores).
SPONVILLE-COMTE, André. O Amor. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. 

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